Máquina do Tempo: Um Olhar Científico

“Por que não podemos voltar ao passado?” Esta questão pairou durante muito tempo sobre a cultura ocidental, sem que uma resposta racional, simples e convincente nos fosse concedida.

O físico Mário Novello apresenta em Máquina do tempo como os cientistas, com o auxílio da teoria da gravitação de Einstein (a chamada relatividade geral), têm equacionado o problema.

Neste livro, o autor realiza a delicada tarefa de tornar a resposta a essa questão compreensível para um público de não-especialistas. E exerce com brilhantismo uma dupla função: informar aos leitores que não são físicos o estado atual de nosso conhecimento sobre viagens não-convencionais no tempo; e produzir um inventário crítico capaz de fornecer aos estudiosos do assunto um roteiro para análises mais aprofundadas.

“A filosofia nasce sob a força de um desejo: desejo de eternidade; recusa obstinada do tempo. As ciências prolongam a filosofia, a filosofia clássica – e esta é a razão pela qual as estrelas se mantiveram fixas por tão longo período. Mas de Galileu ao século XX houve uma grande virada – a entrada do tempo nas filosofias, nas ciências e nas artes. Virtuais, fractais e figurais, conceitos filosóficos, proposições científicas e afetos sensíveis entronizam o tempo – tornam-no senhor de nossa idade; príncipe de nossas perplexidades.

Mário Novello é um cientista e, como tal, entre a sofisticação da matemática e as alternâncias do movimento da física, por exemplo, se apropria de curvas do tempo que violam nossas certezas, que envolvem a questão temporal, a de que um corpo só pode viajar para o futuro afastando-se do passado. Gödel introduz a curva do tipo-tempo fechada, que torna possível descrever tecnicamente o que se chama viagem ao passado. E, à diferença do pensamento antigo, que subjugava o tempo às variáveis do movimento, existem curvas aceleradas que tornam possíveis a um observador que se movimente sobre elas retornar a seu passado.

Uma série crescente de dificuldades teóricas liberta o tempo – afirma o pensador moderno Mário Novello, com seu sonho de um universo centrado, labirintos de luz, para uma viagem quase sem fim do espírito, em que círculos e demonstrações da matemática misturam-se com o desejo do tempo, com o desejo de tempo puro. Este é o campo teórico em que o mais rigoroso e o mais criativo se identificam em um plano de referência desprovido de consistência (Gödel). E o paradoxo, como diz o filósofo, torna-se a mais alta paixão do pensamento. Não devemos pensar mal do paradoxo, porque ele é a paixão do pensamento, e um pensador sem paradoxo é como o amante sem paixão. De modo nenhum é o caso de Mário Novello – um cientista apaixonado e brilhante, rigoroso e criativo.”

Cláudio Ulpiano